TREMOR

Século XXI, paisagens caóticas de violência e miséria disfarçadas sob luzes de neon. O mundo treme e as represas deixarão de aguentar em algum momento. Ulro é aqui. No meio da turbulência dos acontecimentos e movimentos do mundo, navegamos tentando não naufragar. Quem somos?Fragmentos de nós em imagens aceleradas, frases intercortadas, nossos modos de percepção formatados por horas diante da televisão, games, computador, telas de celular, zap, cut, fade. Transitamos entre universos em um movimento de dedo, banalidades, questões político-sociais decisivas e inquietações existenciais se cruzam no cotidiano. Música pop, referências eruditas, notícias,guerra, Blake, desastres ambientais, Hollywood, games,séries e redes sociais compondo um território virtual/real/ficcional cotidiano. Ainda que atropelados pela lama toda, canibalizamos. Canibalizar, ou apropriar e reinventar antropofagicamente,é simultaneamente um conceito e um procedimento importante para pensar dinâmicas de globalização, pós-modernidade e descolonização. Quem somos?Navegando entre continentes e legados de múltiplos povos, atravessados de referências culturais diversas, nos fazemos na diversidade, que é afinal uma marca do tempo. Somos múltiplos, misturas sem fim de muitos tempos,lugares, perspectivas e práticas.

A encenação celebra a teatralidade ao apoiar-se no jogo entre artistas e espectadores, na possibilidade da composição compartilhada de mundos. Engrenagens expostas, do mundo e da cena, jogo revelado, ossos rasgando a carne.Valoriza-se a palavra sem deixar de explorar corporeidades intensificadas e vibrantes, uma cena festiva e corpórea. A cenografia é composta por uma estrutura móvel, escadas, plataformas, tonéis. Espaços imaginários construídos, destruídos e refeitos pelo jogo da cena, através do corpo, dapalavra, composições no tempo/espaço.Tremor reflete a turbulência política e social dos últimos tempos, no país e no mundo, que nos atropela em sua velocidade e violência. Há uma luta importante acontecendo no campo das narrativas.Como podemos narrar nossa história, nosso tempo, nosso mundo? O teatro é um lugar onde tudo é possível, devorado, recriado. Um espaçoonde podemos nos encontrar e repensar, ondediscutimos e reinventamos nossa história.A tristeza que escondemos, a dor que sublinhamos,o choro que engolimos (porque afinal ninguémgosta de nos ver chorar), a terra que arrasamos,os slogans de publicidade que arrotamos, criançasmortas, memória, Playstation, guerra, faca nagoela, Collateral damage, estupro, consumo,comércio de armas, o homem na borda de Ulro, mães, gargalhada: Nós. Quem quer e quantos quer que sejamos.

Tremor – sobre como as coisas foram chegar neste ponto (projeto contemplado no Edital do Projeto Transit do Instituto Goethe) estreou em 17 de maio de 2018 no 13º Festival SESC RS Palco Giratório em Porto Alegre e seguiu em temporada durante o mês de junho no Teatro do Goethe Institut. O processo criativo foi acompanhado pelos críticos do AGORA Crítica Teatral e contou com atividades com a autora do texto original em alemão – Maria Milisavljevic. Integrou a programação do Festival Porto Verão Alegre com apresentações em janeiro de 2019 na Sala Álvaro Moreyra.

Equipe:

Encenação: Patricia Fagundes. Elenco: Priscilla Colombi, Lauro Fagundes e Evandro Soldatelli, com as participações especiais de Patrícia Fagundes e Ander Belotto. Coreografias e provocações corporais: Marco Rodrigues (My House). Assistência de direção: Ander Belotto. Cenografia: Rodrigo Shalako. Iluminação: Carol Zimmer. Paisagens e seleção musical: Virginia Anderle Cigolini e equipe. Trilha sonora original: Leonardo Machado. Criações percussivas: Priscilla Colombi. Vozes: André Varela, Dale Althea Heinen, Leonardo Machado, Mirna Spritzer, Patrícia Fagundes. Colaboração no figurino: Heinz Limaverde. Criação gráfica e assistência de produção: André Varela. Crítico interno: Renato Mendonça. Assessoria de Imprensa: Léo Sant’Anna. Fotografia: Adriana Marchiori.